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Ricardo Coutinho poderá vir a “controlar” o PSB e o PT na Paraíba

    A hipótese de o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, vir a “controlar” o PSB, a que é filiado, e o PT a nível estadual é o fato novo admitido nos meios políticos a partir de São Paulo e Brasília. Essa possibilidade é reforçada diante da reaproximação entre Ricardo e a alta cúpula nacional do PT. No final de semana, Coutinho recepcionou na Granja Santana a ex-presidente Dilma Rousseff, que veio fazer palestra no auditório da reitoria da UFPB sobre Gestão Pública. Agora, Ricardo é mencionado pela mídia como integrante de uma “junta de conselheiros” incumbida de organizar o périplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo interior do Nordeste na próxima semana. Além de Coutinho, participam do núcleo de preparação da visita de Lula os governadores da Bahia, Sergipe, Ceará e Maranhão.

    Ricardo consolidou sua militância política na Paraíba nas fileiras do PT, a que se vinculou durante sua passagem pelo movimento estudantil e sindical em João Pessoa. Foi vereador na Capital e deputado estadual, bem como vice-governador, no bojo de uma aliança com o PMDB em 2006. A desfiliação de Ricardo ao PT ocorreu nos anos 2000 quando ele tentou obter a indicação para candidato a prefeito da Capital e sentiu-se “rifado”, além de submetido a um processo disciplinar que culminaria com sua expulsão. Coutinho liderava pesquisas de opinião pública sobre intenções de voto para a prefeitura pessoense, mas a cúpula local do PT subestimou o fato. Ele se antecipou, então, ao presumível processo de expulsão e ingressou no PSB, onde conseguiu espaço para a candidatura a prefeito da Capital. Foi eleito em 2004, tendo como vice Manoel Júnior, então deputado estadual pelo PMDB, e em 2008, tendo como vice o arquiteto Luciano Agra, que compôs a chapa puro-sangue, já que era filiado ao PSB. Enfim, Coutinho se elegeu ao governo do Estado em 2010 e foi reeleito em 2014, pela sigla socialista.

    Dentro do PSB ele tinha afinidades estreitas com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se preparava para ser candidato a presidente da República mas teve o projeto interrompido com sua morte em acidente aéreo em São Paulo. No processo de impeachment de Dilma Rousseff e, mais recentemente, de condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Sergio Moro, o governador paraibano se reaproximou dos petistas, no que foi entendido como uma “volta às origens no agrupamento ideológico de esquerda”. Para chegar ao governo do Estado e prefeitura da Capital, Ricardo fez alianças com o PSDB, DEM e outros partidos situados na faixa conservadora, daí porque a recomposição comn o PT é saudada como “retorno ao aprisco da esquerda”. O governador sempre deixou claro que fez alianças não por oportunismo mas por estratégia, levando em conta a correlação de forças em cada eleição. Mas os próprios aliados e adversários de Coutinho sempre o consideraram “franco-atirador”, uma espécie de político que não se submete a imposições de terceiros. Os adversários mais ferrenhos acusaram-no de “personalista” em virtude dessa postura, mas nunca deixaram de reconhecer atitudes corajosas e coerentes de Ricardo no campo da esquerda.

    Há divergências pontuais. Ainda agora, por exemplo, o PT paraibano emitiu nota oficial criticando o processo de terceirização de escolas da rede estadual que está sendo posto em prática pelo governador socialista. Mas os petistas deixaram claro que a divergência nesse aspecto não implica em patrulhamento do governador nem em pressão institucional para que ele reveja atitudes administrativas. O PT é grato a Ricardo por ter acolhido Dilma para sua defesa em pleno processo de impeachment a que estava submetida, e também enalteceu o governador por ter levado Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para “inauguração informal” de trechos interligados pelo projeto da transposição de águas do rio São Francisco. O governador justificou ter cometido um ato de justiça por reconhecer o empenho de Lula na viabilização da transposição. O ex-presidente Lula, por sua vez, ensaiou um pedido de desculpas a Coutinho em virtude das divergências acirradas do passado que o levaram a se desfiliar do Partido dos Trabalhadores.

    Nos bastidores, chega-se a comentar uma suposta chapa Lula-presidente, Ricardo Coutinho-vice, na eleição de 2018, já que o governador tem dito que não se interessa em concorrer ao Senado e pode permanecer no mandato até o último dia. Trata-se de mera especulação, já que objetivamente o assunto não tem sido tratado. Também não está em cogitação uma saída de Ricardo do PSB para voltar ao PT. O que está em pauta, asseguram fontes credenciadas, é a opção de Ricardo liderar as duas legendas no Estado, num momento em que o PT paraibano se ressente de lideranças de prestígio para alavancá-lo, depois dos escândalos que envolveram expoentes nacionais da legenda.

    Nonato Guedes

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