Um policial militar que trabalha no Ceará e mora na cidade de São José de Piranhas, Sertão da Paraíba, foi conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos nesta quarta-feira (8), durante a Operação Adinamia, deflagrada pela Polícia Federal (PF), de combate à fraude de concursos públicos e ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ela é um desdobramento à identificação de fraudes no Enem de 2016.
Não há indícios, mas a PF também investiga a possibilidade de fraudes no Enem deste ano. A PF cumpriu 36 mandados judiciais nos estados da Paraíba, Ceará e Piauí. Na Paraíba, as ordens judiciais foram cumpridas nas cidades de São José de Piranhas e Cajazeiras. As diligências da Operação Adinamia começaram por volta das 4h da madrugada e envolveram 90 policiais. “A investigação iniciou a partir de prisões realizadas no ano passado nas cidades de Juazeiro do Norte e Cedro, no Ceará, durante o Enem de 2016. Essa organização criminosa atua independente do concurso público ou vestibular. Embora não tenhamos nenhuma identificação de que agiram no Enem deste ano, há uma expectativa que se descubra algo nesse sentido”, explicou o agente federal Cláudio Luz.
Segundo o agente, a organização criminosa não age por territórios e sim de acordo com os concursos públicos disponíveis, o que provocou diligências em três Estados. “Onde tem concurso acontecendo eles estão atuando. Nesta operação identificaram-se fraudes tanto no Enem como no concurso público para agente penitenciário do Ceará, que aconteceu no mês passado”, disse. A delegada que preside o inquérito, Yolanda Leite, explicou como o bando atuava. “Eles utilizavam ‘candidatos pilotos’, que respondiam as provas antecipadamente e repassavam os gabaritos. Por enquanto não estamos revelando quais concursos, além do Enem, são alvos dessa investigação, pois é um processo que corre em segredo de Justiça”, afirmou. Durante as diligências da Operação Adinamia foi apreendido vasto material eletrônico como celulares, computadores e tablets. Até o final da tarde de desta quarta-feira (8) não havia confirmação sobre a apreensão de pontos eletrônicos. Adinamia é um termo da Medicina que significa ‘fraqueza moral ou muscular’ e foi usado para batizar a operação em uma alusão à fraqueza moral dos candidatos, que compram os gabaritos.
Prova mantida
O Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disseram em nota que não há possibilidade da suspensão das provas do Enem, no próximo fim de semana, por causa da operação. A nota diz também que as mudanças na segurança do exame, para 2017, foram feitas por orientação da própria PF, após casos de fraudes em edições anteriores. Segundo o MEC e o Inep, no primeiro domingo de provas do Enem dois delegados da PF fizeram parte do grupo estratégico de monitoramento do exame, coordenando equipes que atuavam em diversos pontos do País. Pela primeira vez, as provas são personalizadas, com identificação do nome e número de inscrição do participante. Também foi iniciado o uso de detectores de ponto eletrônico, em locais definidos pela Polícia Federal. Todos os requisitos de 2016 foram ainda mantidos, como a identificação biométrica, o detector de metal nas portas de todos os banheiros e as escoltas para entrega das provas, inclusive no retorno.
Segundo o Inep, no segundo semestre deste ano foram anulados o resultado de 13 participantes do Enem 2015 e 2016 envolvidos em fraudes, que perderam o direito às vagas, nas quais já estavam matriculados. O indiciamento desses 13 beneficiados por fraude é resultado da conclusão do Inquérito Policial na operação “Jogo Limpo” deflagrada pela Polícia Federal do Maranhão.
Esquema do Enem
A fraude investigada pela PF começava com a violação antecipada de lacres para acesso às provas do Enem e outros concursos. Nas provas do Enem, candidatos ao curso de Medicina pagavam até R$45 mil antecipado para recebimento das respostas e o mesmo valor era pago após garantida a vaga.
Renata Fabrício e Ainoã Geminiano do Correio da Paraíba